martes, 30 de junio de 2009

Ana Carolina lê "Só de Sacanagem" de Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

jueves, 25 de junio de 2009

Balada da Fábula Urbis. Um presente para nós.


O meu grande amigo e poeta José do Carmo Francisco, depois de ler este blogue e ver a fotografia do cabeçalho, escreveu esta balada com janelas, Lisboa e miradouros.É para nós, janelantes...

Obrigada, José, e até Agosto!


Balada da Fábula Urbis

Na antiga marcenaria
Numa das sete colinas
Há um lugar de poesia
Numa casa sem esquinas

No gaveto de duas ruas
Sobreloja, boas vistas
Uma hora vale por duas
No roteiro dos turistas

Um piano e uma guitarra
Personagens num estrado
A música alcança a barra
Do Tejo que passa ao lado

Na passagem das figuras
As coisas mais importantes
São as rodas das viaturas
E os livros nestas estantes

Para quem já perdeu a fé
Ou apanhou grande susto
Senta-se e bebe um café
Ajuda o comércio justo

Nas janelas de Lisboa
Entre vozes de vizinhas
Na roupa a secar à toa
Há gatos e cuequinhas

Já passou um amarelo
A caminho dos Prazeres
Na direcção do Castelo
Ouvi risos de mulheres

Vozes puras, de cristal
Miradouro da alegria
São sonhos de Portugal
Na porta da Livraria

José do Carmo Francisco



José do Carmo Francisco (Portugal, 1951), foi Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores com o livro "Iniciais". É secretário da Associação Portuguesa de Críticos Literários.
Autor dos livros: "Iniciais" (1981), "Universário" (1982), "Transporte Sentimental" (1987), "Jogos Olímpicos" (1988), "1983 - Um resumo" (1991), "Leme de luz" (1993), "Mesa dos Extravagantes" (1997), "As emboscadas do esquecimento" (1999), "De súbito" (2001), "Os guarda-redes morrem ao Domingo" (2002), "O Saco do Adeus" (2003), "Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos" (2005) y "Mansões abandonadas" (2007).

Luso-risos

Risos com Gato Fedorento pelo novo aeroporto internacional de Lisboa em...Bragança!

http://www.youtube.com/watch?v=82ZLjEkifBY&feature=fvsr

"Barroco Tropical" de José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa apresenta novo livro e aproveita para falar sobre a criação literária.

Aproveito eu para falar de dois livros anteriores deste autor.:"O Vendedor de Passados" e "Passageiros em trânsito".

É muito difícil falar destes livros e fazer com que vos chegue a magia deles sem desvelar a história, o que não gostaria de fazer, dado que espero que leiam e desfrutem tanto como eu desfrutei.

Então imaginemos que existe um homem que cria e vende passados para pessoas que têm um passado de que não gostam, imaginemos que há uma mulher que viaja para caçar luz e nuvens, imaginemos uma osga que espreita as histórias alheias e que, além do mais, conta... Com certeza que vamos acabar por imaginar o mundo de "O Vendedor de Passados".

"Passageiros em trânsito" é um conjunto de relatos em que aparece o absurdo misturado com a realidade africana vista desde um ponto de vista ironicamente humorístico. A não perder "A Gargalhada", nem "Memórias póstumas", onde faz uma espécie de homenagem a Machado de Assis...

E para finalizar, salientar o olhar interessante e aglutinador que este autor tem sobre o mundo da LUSOFONIA, tendo morado em Angola (onde nasceu), em Portugal e no Brasil...

Deixo o endereço da página dele para quem quiser saber mais: http://www.agualusa.info/

miércoles, 24 de junio de 2009

HORARIOS

TEMOS HORÁRIO DE 20 a 22 para o ano que vem!

martes, 23 de junio de 2009

Uma janela de Verão


Sua vida passada à beira-mar. O mar era o horizonte mais próximo, e também o mais remoto, desde o começo da infância. A casa a que todos os anos se voltava e de onde sempre de novo se partia, segundo um ritmo, uma lei escondida nas coisas, que ela levara, muito tempo a entender. De repente os dias eram límpidos, leves, cheios de pássaros, nasciam no jardim as hortenses, depois os jarros, depois as beladonas, os vestidos mudavam, o ar era mais quente, mais cheiroso, o céu era muito mais redondo e rasgado, sobretudo quando se olhava do chão, deitado sobre a relvas, e então, sem que soubesse nunca exactamente quando, era a hora de fazer as malas e de ir embora, era sempre um dia que chegava bruscamente, perguntava-se quapdo e diziam sempre «ainda falta muito», mesmo quando diziam «amanhã» o dia não chegava, e de súbito estava-se dentro do. dia sem o ter sentido aproximar-se, como se se tivesse 'saltado’ sem cair entre dois muros, entrava-se no carro e partia-se, no meio de malas, cestos, trouxas de roupa e caixotes cheirando a sabão, Casimira amarra­va o lenço na cabeça, passava para trás e fechava a janela, alisava com as mãos o avental antes de a sentar ao colo, e era sempre Casimira que ainda nessa tarde a levaria á praia com Elisa, ela olharia da praia e poderia distinguir as paredes brancas, a porta, as pequenas janelas — lá estava, lá estava a casa, plantada no Verão. Todas as coisas iguais, recuperadas, porque não havia ainda nenhum intervalo no tempo. Os pés reconheciam as sandálias, como os ouvidos o vento, e o corpo o sabor do mar. Todas as coisas intactas, que de repente voltariam: o nevoeiro entrando pelas fisgas, como um assobio muito fino, o cheiro das manhãs em que chovia, os barcos, todos brancos, sobre o mar. E sobretudo a casa voltaria, idêntica, interior, envolvente, como o peso de dois braços, durante muitos anos voltaria, até que insensivelmente começaria a afastar-se como um barco partindo, e de repente havia uma distância intransponível entre ela e a casa de repente era o último dia e a casa fechava as suas portas, o Verão fechava as suas portas e o deserto crescia em toda a volta, o homem desmanchara a barraca e enrolara os panos, pegou com as mãos nos bonecos e sacudiu-os com força antes de atirá­los ao chão — mortos, de pau, os braços soltos, as saias de folhos desbotadas.


Teolinda Gersão, do livro Paisagem com mulher e mar ao fundo (1982). Edições "O Jornal".



Imagem: "Banco da Ericeira" (fotografia tomada pela Marta, na Ericeira: um lugar muito perto de Lisboa e muito belo)

lunes, 22 de junio de 2009

Um bocadinho de literatura


Se gostam da poesia e da literatura portuguesa, aqui podem ouvir textos dos melhores escritores da lusofonia como Fiama Hasse, Fernando Pinto do Amaral, Graça Pires, Fernando Pessoa ou Sophia de Mello, na voz do Luís Gaspar:




Um abraço,
marta

Imagem: Sophia de Mello

Erro

Desculpa lá, esquecí da cidade, é Lisboa! a comida é marisco, acho muito melhor que o restaurante Portugalia, que é bastante conhecido.

Bom, vemo-nos tudos por aqui

Luis

PRUEBA

Bom dia, sou novo no Blog, eu gosto muito da comida portuguesa, recomendo para todos um restaurante em Admirante Reis número 1, perto de Rossio.

Luis

domingo, 21 de junio de 2009

Veranos de la Villa

Vamos ter a oportunidade de ver, ouvir e desfrutar de alguns dos cantores mais prestigiados da Lusofonia no mês de Julho. Estou a falar de Dulce Pontes, Gilberto Gil e Cesária Évora, que levarão ao palco de "Los Veranos de la Villa" os seus mais recentes espectáculos.
As datas são as seguintes:
Dulce Pontes: 8 de Julho às 21:30
Cesaria Évora: 11 de Julho às 21:30
Gilberto Gil: 26 de Julho às 21:30
Podem encontrar mais informações no site

jueves, 18 de junio de 2009

Clã - Vamos Esta Noite

"Vamos
Para a montanha russa
Vamos
ao carrossel
Vamos
Subir o Pão de Açucar
Vamos juntos
Lamber o céu

Vamos
Dançar até cair, ir
Juntos vamos
Morrer de rir

Esta noite é só pra nós
Hoje não terá depois
Hoje não terá porquês
Esta noite é pra vocês
Virem comigo
Até ao fim
Para o fim do mundo

Vamos
Perder a hora certa
Vamos
Pisar no chão
Vamos
Deixar a porta aberta
Juntos vamos
Para Plutão

Hoje não terá amanhã
Hoje o mundo é nosso Clã
Hoje não terá talvez
Esta noite é pra vocês
Virem junto
Até ao fim do fim de tudo"

Vamos? Pareceu-me que esta música podia ser um bom início... Bem-vindos.